A polêmica contribuição da TV pública
por Fernanda Monteiro
Organizado pela Empresa Brasil de Comunicação, o seminário “Em Construção - Encontro EBC: diálogos com a sociedade civil” aconteceu no dia 2 de dezembro. O objetivo era ouvir o que o público tinha a dizer sobre os dois anos de existência da Empresa Brasileira de Comunicação. Entre os convidados, estavam presentes representantes de entidades ligadas às mídias do campo público, organizações relacionadas ao tema do direito à comunicação, à comunicação comunitária e aos produtores independentes, além de pesquisadores e representantes do Conselho Curador e da Ouvidoria da EBC.
Antônio Brasil, convidado pela organização, foi um dos nomes que compareceu ao evento. Crítico conhecido da TV Brasil, durante o debate sobre programação, o jornalista e pesquisador da UERJ declarou, mais uma vez, seu posicionamento desfavorável à TV Pública. Para ele, investir na TV pública seria um grande desperdício de recursos. O pesquisador aponta ainda os baixos índices de audiência registrados pela programação da TV Brasil como uma constatação do escasso interesse da população pelo tipo de conteúdo veiculado. Assim, Brasil afirma que se “(...) faltasse a TV pública ninguém sentiria falta, mas que se uma novela saísse do ar todo mundo iria reclamar.” - como reproduzido por Mariana Martins em seu artigo Empresa Brasil de Comunicação: Diálogo aberto com a sociedade.
A provocação do pesquisador apenas expressa o contraste entre o grande interesse do público pela programação da TV aberta e o descaso em relação à TV pública. Nesse ponto, Brasil mais uma contradição. Enquanto muitos defendem a necessidade de produzir conteúdos de boa qualidade, Brasil se pergunta: quem assiste esta “excelente” programação? Muitos elogiam a TV pública, mas sequer assistem aos programas por ela transmitidos. Segundo ele, a razão é bastante simples: na maioria dos casos, a TV serve apenas como instrumento de relaxamento e diversão. Em seu escasso tempo livre, as pessoas querem mesmo é descansar e, por isso, recusam qualquer tipo de esforço, inclusive o de caráter intelectual - como aqueles propostos pela programação “cabeça” da TV pública. Se a TV comercial - mesmo tão criticada - constitui a preferência do público, então Brasil lança a pergunta: o que é qualidade na TV? A qualidade é medida pela audiência ou pelo grau de sofisticação da programação?
Nesse cenário, Brasil critica ainda a pretensão da TV pública de oferecer um conteúdo generalista, que atenda ao interesse coletivo. No entanto, segundo o pesquisador, esse tipo de concepção vai na contramão da tendência atual, que é a TV segmentada, e não mais a TV aberta generalista. Portanto, para o jornalista, o modelo de TV pública proposto seria obsoleto. E, por isso, mais uma vez, ele fala de investimento e esforço infundados.
Durante sua participação, Brasil passou de uma consideração geral a respeito da TV pública, para analisar o cenário brasileiro específico. Para ele, a história da TV no país é marcada fortemente pelo surgimento da Rede Globo que se tornou o maior conglomerado de comunicação da atualidade. Feitas as milhares de críticas possíveis à TV Globo, cabe lembrar a preferência por ela conquistada entre os telespectadores - o que, em última instância, justifica os investimentos para ela direcionados. Em contrapartida, não se pode dizer o mesmo da TV Brasil, já que o esforço de oferecer uma “boa” programação não encontra empatia no público.
Se a audiência da TV Brasil é insignificante, então esta TV é feita para quem? O público quer uma TV pública? Afinal, o que justifica a existência da TV Brasil e o investimento que a sustenta? Algum dia a TV Brasil vai conseguir competir com a TV comercial? Estas são apenas algumas das perguntas que podemos extrair da polêmica contribuição de Antônio Brasilno Encontro promovido pela Empresa Brasileira de Comunicação.
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