quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Rio de Janeiro é eleito o melhor destino gay do mundo

Porém membros da comunidade LGBT acreditam que falta estrutura para atender os turistas

Por Juliana Gonçalves e Pamella Lima


O Rio de Janeiro está na moda, a “cidade maravilhosa” se tornou a sede dos Jogos militares de 2011, será palco de Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Otimismo exuberante é pouco. Em setembro, através de pesquisa na Internet feita pela revista Forbes, a capital fluminense foi eleita a cidade mais feliz do mundo e na World Travel Market (feira que organiza premiação na indústria do turismo) o melhor destino da América do Sul. Completando a lista, a cidade também recebeu o status de ‘melhor destino gay do mundo’, apurado pelo site TripOutTravel e o canal americano Logo, da MTV, veículos destinados ao segmento LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros .

O jornalista Eduardo Peret, representante da Associação Brasileira de Gays, esclarece que a votação que tornou o rio conhecido mundialmente como capital gay foi feita por turistas estrangeiros e acredita que a fama do brasileiro “bom de cama” tenha influenciado nesta enquête. “Eu, pessoalmente, não acredito que aqui seja o melhor destino gay do mundo. Mas, essa eleição pode ser usada de uma maneira positiva. Podemos levar essa informação à Secretaria Estadual de Turismo e dizer: - os gays do mundo todo votaram no Rio de janeiro, então vamos melhorar a segurança, vamos capacitar a polícia, o serviço de saúde e quem atende o turista para que todos atuem sem preconceito. Moro no Rio de Janeiro e vejo os nossos problemas. Já visitei outros lugares no Brasil e no exterior, onde prestam serviços para a população LGBT sem discriminação”, afirmou.

Eduardo explica que o perfil do turista gay é diferenciado: “a maioria dos turistas gays não tem filhos e não vive em casal, o que os leva a gastar de maneira diferente de uma família heterossexual. Agora temos alguns gay-friendly (hotéis voltados para o público LGBT), pois agora está existindo a preocupação com esse público”. Para ele, um bom fator é a existência de grandes pontos de sociabilidade, principalmente homossexual masculina: “A gente pode destacar, por exemplo, a rua Farme de Amoedo, em Ipanema que tradicionalmente é um point gay e lá mesmo você tem problemas. Existem alguns moradores que são homofóbicos e que fazem campanhas contra os frequentadores”. Eduardo diz ainda que o Brasil não tem uma estrutura de serviços fundamentada e focada na questão da diversidade.

Opinião partilhada com o aluno de artes da Uerj, Aílton Berberick, membro do Coletivo Ciranda, um grupo LGBT que funciona dentro da Universidade. “Acho difícil a cidade ostentar esse titulo por muito tempo. A menos que sejam traçadas políticas públicas para assegurar a livre manifestação do afeto e garantia da integridade dos turistas”, afirmou o estudante. Para ele existe uma carga de preconceito muito grande e velada na sociedade carioca.

Aílton diz que dentro da Universidade as coisas são mais difíceis, pois, segundo ele, “no campo educacional as relações de poder e masculinidades ditam as cartas do jogo então é preciso saber administrar essas tensões”. Explicou que um coletivo gay dentro da Uerj, funciona para ampliar os debates sobre a sexualidade em geral e contou um pouco do histórico do grupo: “O coletivo Ciranda nasceu em 2008. A maioria dos alunos faz ciências sociais, mas eu, por exemplo sou do curso de artes. Durante esse tempo de existência houve algumas mudanças junto a reitoria”.

Eduardo Peret (que também é funcionário da Faculdade de Comunicação Social da Uerj) comentou sobre as mudanças ocorridas na universidade em relação aos alunos homossexuais: “Em 2008, o Reitor Ricardo Vieiralves durante a Conferencia Estadual de Políticas Públicas para LGBT, que aconteceu na Uerj, assinou uma carta de intenções, mas algumas precisaram passar pelo conselho universitário. Entre as medidas temos a permissão que cônjuges tenham acesso a quarto particular nas internações do Hospital Universitário Pedro Ernesto, que as travestis estudantes da universidade possam utilizar nomes femininos na lista de chamada e também possam utilizar o banheiro feminino”. Mas lamentou que muitas dessas pessoas não consigam chegar ao nível superior por falta de oportunidade e disse ter conhecido apenas duas na Uerj.

Contudo, Aílton acredita que seja fácil ser homossexual no Rio de Janeiro, sobretudo, na Zona Sul da cidade. Para ele, em outros estados do Brasil existe mais preconceito. E Eduardo destacou que dificilmente outra cidade do país poderia receber tal titulo da comunidade LGBT. “São Paulo é uma cidade cosmopolita, tem uma vida cultural muito intensa, com uma boa estrutura de serviços, mas não tem a beleza natural do Rio. Além de também ter problemas com homofobia, lá gays são espancados e assassinados”, exemplificou.

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