Por Juliana Gonçalves e Pamella Lima
O Rio de Janeiro está na moda, a “cidade maravilhosa” se tornou a sede dos Jogos militares de 2011, será palco de Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Otimismo exuberante é pouco. Em setembro, através de pesquisa na Internet feita pela revista Forbes, a capital fluminense foi eleita a cidade mais feliz do mundo e na World Travel Market (feira que organiza premiação na indústria do turismo) o melhor destino da América do Sul. Completando a lista, a cidade também recebeu o status de ‘melhor destino gay do mundo’, apurado pelo site TripOutTravel e o canal americano Logo, da MTV, veículos destinados ao segmento LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros .
O jornalista Eduardo Peret, representante da Associação Brasileira de Gays, esclarece que a votação que tornou o rio conhecido mundialmente como capital gay foi feita por turistas estrangeiros e acredita que a fama do brasileiro “bom de cama” tenha influenciado nesta enquête. “Eu, pessoalmente, não acredito que aqui seja o melhor destino gay do mundo. Mas, essa eleição pode ser usada de uma maneira positiva. Podemos levar essa informação à Secretaria Estadual de Turismo e dizer: - os gays do mundo todo votaram no Rio de janeiro, então vamos melhorar a segurança, vamos capacitar a polícia, o serviço de saúde e quem atende o turista para que todos atuem sem preconceito. Moro no Rio de Janeiro e vejo os nossos problemas. Já visitei outros lugares no Brasil e no exterior, onde prestam serviços para a população LGBT sem discriminação”, afirmou.
Eduardo explica que o perfil do turista gay é diferenciado: “a maioria dos turistas gays não tem filhos e não vive em casal, o que os leva a gastar de maneira diferente de uma família heterossexual. Agora temos alguns gay-friendly (hotéis voltados para o público LGBT), pois agora está existindo a preocupação com esse público”. Para ele, um bom fator é a existência de grandes pontos de sociabilidade, principalmente homossexual masculina: “A gente pode destacar, por exemplo, a rua Farme de Amoedo, em Ipanema que tradicionalmente é um point gay e lá mesmo você tem problemas. Existem alguns moradores que são homofóbicos e que fazem campanhas contra os frequentadores”. Eduardo diz ainda que o Brasil não tem uma estrutura de serviços fundamentada e focada na questão da diversidade.
Opinião partilhada com o aluno de artes da Uerj, Aílton Berberick, membro do Coletivo Ciranda, um grupo LGBT que funciona dentro da Universidade. “Acho difícil a cidade ostentar esse titulo por muito tempo. A menos que sejam traçadas políticas públicas para assegurar a livre manifestação do afeto e garantia da integridade dos turistas”, afirmou o estudante. Para ele existe uma carga de preconceito muito grande e velada na sociedade carioca.
Aílton diz que dentro da Universidade as coisas são mais difíceis, pois, segundo ele, “no campo educacional as relações de poder e masculinidades ditam as cartas do jogo então é preciso saber administrar essas tensões”. Explicou que um coletivo gay dentro da Uerj, funciona para ampliar os debates sobre a sexualidade em geral e contou um pouco do histórico do grupo: “O coletivo Ciranda nasceu em 2008. A maioria dos alunos faz ciências sociais, mas eu, por exemplo sou do curso de artes. Durante esse tempo de existência houve algumas mudanças junto a reitoria”.
Eduardo Peret (que também é funcionário da Faculdade de Comunicação Social da Uerj) comentou sobre as mudanças ocorridas na universidade em relação aos alunos homossexuais: “Em 2008, o Reitor Ricardo Vieiralves durante a Conferencia Estadual de Políticas Públicas para LGBT, que aconteceu na Uerj, assinou uma carta de intenções, mas algumas precisaram passar pelo conselho universitário. Entre as medidas temos a permissão que cônjuges tenham acesso a quarto particular nas internações do Hospital Universitário Pedro Ernesto, que as travestis estudantes da universidade possam utilizar nomes femininos na lista de chamada e também possam utilizar o banheiro feminino”. Mas lamentou que muitas dessas pessoas não consigam chegar ao nível superior por falta de oportunidade e disse ter conhecido apenas duas na Uerj.
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