Por Caroline Morais, Fernanda Monteiro e Thalita Hora
Criado na década de 70 na Noruega designa um tipo de comportamento caracterizado por “(...) ações intencionais que têm por objetivo causar dano, que podem ser de caráter físico, verbal e/ou psicológico, que são repetidas, e nas que se faz necessário um desequilíbrio de poder entre o agressor e a vítima”, de acordo com Joel Neuman, pesquisador da Universidade do Estado de Nova York e New Paltz.
Enquanto americanos e europeus problematizavam a prática do bullying, no Brasil o que sempre era conhecido como zombaria no ambiente escolar – conhecida já nos tempos de nossos tataravós – não preocupava ninguém. Nos últimos anos, no entanto, tudo mudou. Psicólogos brasileiros importaram o conceito europeu e, então a brincadeira contra o gordinho deixou de ter graça e tornou-se um problema.
Desde então, algumas campanhas foram realizadas, a fim de reprimir a agora discriminação entre alunos em idade escolar – a exemplo da Campanha contra o Bullying nas Escolas, promovida pelo governo estadual da Bahia e o Programa Anti-Bullying Educar para a Paz, uma parceria entre escolas brasileiras e portuguesas. Inibir este tipo de comportamento seria fundamental para garantir o pleno desenvolvimento acadêmico e psicológico de crianças e adolescentes. Se apelidos e zombarias causam tantos estragos no ambiente escolar, o que dizer então sobre o trote na universidade?
(Trote da Faculdade de Comunicação Social da UERJ – 1º semestre de 2009)
O tradicional ritual de recepção aos novatos na universidade, primeiramente, implica uma clara relação hierárquica, em que o veterano tem poder – conferido a ele graças aos supostos conhecimentos sobre a vida universitária – sobre o calouro. Baseados nesta lógica, veteranos organizam trotes que, em diversas situações, incluem brincadeiras que ridicularizam os novatos.
Ângela Adriana Almeida, psicopedagoga dedicada ao estudo do bullying, afirmaque o fenômeno pode ser o observado em todos os tipos de relações interpessoais e, portanto, o ambiente universitário não seria uma exceção. Para ela, “(...) é uma ilusão acreditar que estudantes universitários apresentam maior capacidade de defesa, eles [também] sofrem abusos por parte de colegas e também da Equipe Docente (...)”.
Ainda segundo a pesquisadora, o trote universitário constitui momento propício para a prática do bullying. No entanto, Ângela declara que “(...) a vítima muitas vezes o tolera para não ficar antipatizado pelo grupo”. O medo de ser excluído do grupo social com o qual vai conviver durante a faculdade inibe a denúncia da prática. Por parte dos professores, por sua vez, há pouca conscientização quanto às conseqüências do bullying. Neste ponto, Ângela afirma também que o corpo docente costuma considerar natural eventos como o trote e, por isso, descarta qualquer discurso que o associe à violência. Segundo ela, a preocupação só surge no momento em que crimes são cometidos, como o assassinato do jovem Edison Tsung Chi Hsueh durante o trote de medicina da Universidade de São Paulo em 1999.
Para saber um pouco mais sobre a questão, fomos à procura de veteranos e calouros – agressores e vítimas, na concepção da pesquisadora.
Em entrevista, um calouro da Faculdade de Comunicação Social da UERJ – que não quis se identificar falou de sua experiência no momento de ingresso à faculdade. O aluno admitiu que, antes de sofrer o trote, o considerava uma experiência positiva para sua vida universitária. No entanto, a expectativa por um momento descontraído de integração com os novos colegas foi completamente frustrada. “Me senti um pouco discriminado, inferiorizado, excluído da faculdade. Fui obrigado a me ajoelhar na frente de todos e venerar os veteranos.”
Enquanto o calouro entrevistado declara sua decepção, Rafael Nascimento, veterano que participou da organização do mesmo trote, “Na UERJ o trote de comunicação é saudável, integra os calouros e veteranos e lembro que ninguém foi obrigado a fazer nada que foi proposto por nós.” Rafael também fala o que acha dos trotes em geral. “Depende, se o trote for uma coisa baseada no bom humor, que integra as pessoas ele é válido. Sou totalmente contra o trote agressivo, humilhante e que em alguns casos, pode colocar em risco a vida dos calouros.”
As opiniões contrárias deixam clara a polêmica em torno do trote. Seria ele apenas um saudável ritual de integração ou um ótimo exemplo de discriminação e violência psicológica – e, até mesmo, física – entre os universitários?
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