quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Milhares na festa, poucos na militância!


Apesar de reunir milhares de pessoas na orla de Copacabana, o movimento LGBT ainda encontra dificuldades para estabelecer sua representatividade.


Por Aisy Thuswohl, Rachel Taranto, Rafael Nascimento




(foto: rafael Nascimento)
Nem carnaval, nem reveillon! O que reuniu cerca de um milhão e meio de pessoas, na orla de Copacabana, no dia primeiro de novembro, foi a 14º Parada do Orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais). Organizado pelo Grupo Arco-Íris, o evento aconteceu sob forte chuva, o que não intimidou a multidão presente que incluía personalidades como o Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc e o governador do Estado do Rio de Janeiro Sérgio Cabral filho. A manifestação tinha como principal objetivo a aprovação pelo Senado do projeto de lei que criminaliza a homofobia (Nº122/2006).

(foto: Rachel Taranto)
O aparente ambiente de euforia e descontração foi caracterizado pelo peculiar clima cosmopolita, unindo os mais diferentes segmentos sociais. Alguns desses, escancaravam o seu repúdio à incitativa. Foi o caso de jovens, que se diziam evangélicos, que exclamavam através de alto-falantes: “Duas liberdades que se contradizem estão presentes nesse momento. Ao passo que os homossexuais estão aqui para defender o que eles entendem por direitos eu, na contrapartida, também defendo o meu modo de expressar o que a gente pensa de diferente desse grupo”. Eles preferiram não se identificar. Outros movimentos religiosos também estavam presentes, como a Igreja Cristã Contemporânea que defende a aceitação do homossexualismo dentro da igreja, como explica Wagner Félix, 28, membro dessa organização: “a bíblia não condena o homossexualismo, mas sim a promiscuidade. Somos gays e também temos o direito de sermos cristãos”.

Discussões de origem ecumênica não eram as únicas em foco no evento. Movimentos de representatividade política se mostraram presentes, inclusive o Movimento Estudantil. Alunos distribuíam e divulgavam a posição de apoio da ANEL (Assembléia Nacional de Estudantes Livres), que visa abraçar, entre outras causas, a discussão da temática homossexual dentro das universidades. Uma das estudantes militantes, Larissa S., estudante de Ciências Sociais da UERJ, falou da sua participação na ANEL: “ A anel é uma coordenação de várias entidades, nacionais e estaduais. As reuniões são abertas eu participo”. Falou também da importância de se pautar o movimento homossexual e de outras minorias sob uma ótica do movimento estudantil. “A ANEL é muito nova, tem menos de um ano. Em plenários decidiram ir às paradas (gays), fizemos um ato de repúdio à tentativa da prefeitura de Caxias de proibir a parada. Em todos os encontros teve pelo menos uma plenária de opressões e é a mais procurada”.

Na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o que se observa é a falta de iniciativas para discutir o assunto. A chapa candidata ao DCE (diretório central de estudantes) da UERJ que colocava as minorias em pauta não foi eleita. Entretanto estão formulando uma oposição para fazer frente ao quadro atual. Seu objetivo inicial era suscitar a discussão dentro da universidade “é uma das principais causas na UERJ (homossexualismo), também pela existência de cotas, é o tema das opressões, e a oposição quer justamente levantar a discussão”. Disse Larissa, pertencente a chapa que não foi vitoriosa.

Ricardo Freitas, vice-diretor da faculdade de comunicação da UERJ, percebe que existem paradoxos na discussão do tema dentro das Universidades. “Existe sim o ambiente favorável ao debate, à compreensão, o meio acadêmico é naturalmente um meio generoso com relação aos outros. Mas é claro que os preconceitos que existem na sociedade se refletem na universidade. Então criamos em alguns nichos uma dificuldade em falar no assunto(...). Há trabalhos acadêmicos, mas o movimento político em torno da questão a gente não percebe”, ele explica.

Como exemplo, ele ressalta a falta de repercussão entre os alunos da medida de 2008 que permitiria que travestis e transexuais utilizassem os banheiros femininos. Grande parte dos alunos não tomou conhecimento do fato. E acrescenta, “não temos, praticamente, alunos travestis; (...) tem uma categoria de homossexual que não chega aqui [na universidade]”. Outra medida que facilita a adaptação desses alunos e que é aplicada na UERJ é a que exige que estes sejam incluídos nas listas de chamada por seus nomes “sociais”, correspondentes ao sexo com o qual eles se identificam. Não foram encontradas estatísticas quanto a presença desse grupo em universidades brasileiras.

Apesar de mobilizar milhares de pessoas em eventos como a Parada do Orgulho LGBT, a causa homossexual ainda encontra barreiras e preconceitos em instituições como as Universidades. O cada vez maior trabalho de conscientização das organizações em prol do movimento LGBT, como o Grupo Arco Íris, parece não encontrar meios eficazes de inserção nestes ambientes. A mobilização estudantil, em geral, também não tem grande expressão dentro do meio acadêmico, o que caracteriza um certo paradoxo, visto que este é o ambiente mais propício para discussões deste gênero, como observou o vice-diretor da Faculdade de Comunicação da UERJ, Ricardo Freitas.



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