Alunos da Uerj, Puc-Rio e Ufrj opinam sobre seu happy hour favorito
Por George Guilherme, Lais Rangel e Andala Iara
O público gira em torno dos 20 anos. São jovens universitários que entre aulas e provas, aproveitam o tempo livre para se reunirem em um lugar que ofereça uma boa diversão, mas sem pesar no bolso. Sem dúvidas, a eleição unânime é para o botequim. A universidade muda, mas o roteiro continua sendo o mesmo: depois de um intenso dia de ócio na faculdade, um grupo de amigos se junta e vai conversar sobre qualquer assunto no bar mais próximo.
De tão frequentados pelos estudantes, existem aqueles bares que recebem uma alcunha quase de “oficial”. É o caso do Bar Loreninha, localizado bem em frente à Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Uerj, na Tijuca. Ele é recuado do asfalto, mas nem por isso é escondido, principalmente em dias de jogos no estádio do Maracanã. Citado no livro do jornalista Zuenir Ventura, o bar é ponto de encontro dos alunos não apenas pelo preço, mas pelo excelente humor do garçom Cicinho. Ivan, dono do estabelecimento, diz que uma vez ele contou para uma cliente que um dos garçons tinha morrido. Dias depois essa cliente encontrou o garçom na rua, acreditou que tivesse vendo seu fantasma e foi se esconder dentro de uma loja com medo. “A menina veio direto para cá xingando e rindo com o Cicinho”, completa.
Curiosamente, quinta-feira é o dia mais cheio do Loreninha, segundo Ivan. De acordo com ele, “muitos alunos não moram na cidade e viajam de volta para casa na sexta-feira”. Hipótese correta ou não, encontramos alunos de quase todos os cursos da Uerj lá. O garçom Cicinho brinca: “aqui é o único lugar do Brasil onde você vê comunista conversando numa boa com reacionário”.
A mesma estrutura pode ser transplantada para Bar do Pires ou somente “Pires”, na Gávea. Seu público é essencialmente de alunos, ex-alunos e professores da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio . Burocraticamente, o lugar se chama “Bar Rainha do Mar”. Pires era o nome do antigo dono do bar, um típico português de bigode nietzschiano. Apesar de todos considerarem um autêntico botequim, o “Pires” lembra mais um Café. Carolina Backer, mestranda em Relações Internacionais da PUC-Rio, contesta a visão clássica de botequins. “Foi o tempo que para ser considerado bar era preciso ter aqueles ovos coloridos boiando em um pote. Gosto daqui porque é atrativa a ideia de você tomar uma cerveja em um lugar limpo”, afirma.
Na UFRJ, o famoso Bar Sujinho é considerado por muitos o melhor “anexo” da Universidade. A aluna Tainá Hernandes, de 20 anos, conta em uma entrevista fatos inusitados sobre a relação faculdade x bar.
O Bar Sujinho é bastante freqüentado. El e já foi, inclusive, utilizado diversas vezes para a realização de evento .A que você acha que se deve esse sucesso?
Tainá Hernandes: Com certeza ao fato de que universitário adora bar! Quando você está na escola, pensa na faculdade como um lugar emocionante, com muitas festas, bebidas, gente que só quer se divertir. É uma imagem que fica na nossa cabeça por causa dos filmes e seriados, que quase sempre mostram esse estereótipo. Quando você entra, percebe que não é bem assim o tempo inteiro, que é uma rotina estressante, principalmente pra quem mora muito longe, ou trabalha e estuda, então o jeito é extravasar no bar mesmo, pra não se frustrar tanto.
Sendo a rotina tão estressante, e com o volume elevado de trabalhos, provas e aulas que vocês têm, como sobra tempo para o bar?
TH: Aí entra o famoso jeitinho brasileiro, claro! Aliás, se tem algo em que estudantes são bons, é em jogo de cintura. Você até tem que atingir certa freqüência, fazer os trabalhos, mas sempre se dá um jeito.
LR: Como, por exemplo?
TH: Primeiro a gente vai às aulas para conhecer o professor, saber se ele faz chamada, em que horário, se passa lista, essas coisas... ou então pede pra algum veterano explicar. Funciona assim: se o professor faz chamada no fim da aula, você pode ir pro bar e chegar no fim; se faz no início, você pode sentar lá no fundo, responder e sair; se passa a lista, pede pra alguém mudar a letra, trocar a caneta e assinar por você. Aqueles que não passam lista e fazem chamada no meio da aula é que dão mais trabalho. Mas é claro que isso é uma coisa que se faz só às vezes, não dá pra faltar um período inteiro, você pode ter as técnicas, mas também precisa de cuidado pra não abusar.
LR: O público maior é formado por calouros ou veteranos?
TH: Calouro gosta de farra. Acabou de chegar na faculdade, ainda tem aquela visão de que tudo vai ser uma festa, está numa fase de querer conhecer as pessoas, querer ser parte do grupo, então sempre marcam presença por lá. Já os veteranos, vão porque aquilo ali é uma válvula de escape. Você não está mais tão empolgado com a faculdade, ou foi mal em alguma matéria – já que elas ficam mais difíceis com o tempo – ou está estressado com algum professor, então vai pro bar e relaxa. Mas a época que dá mais movimento é em começo de período. Você junta os dois grupos no mesmo lugar... Tem a questão do trote, e outros eventos de recepção de calouros que os veteranos fazem, então sempre sobra uma grana para beber. E todo mundo acaba ficando mais empolgado com uma turma nova, cheia de energia – calouros são barulhentos, risonhos, meio infantis ainda – acho que o movimento só cai um pouco entre os alunos a partir do quinto período. A maioria já começa a procurar estágio, trabalho, às vezes moram sozinhos, pagam as contas, então ficam mais cansados, ou não podem beber em dias de semana. Pelo menos ainda tenho um período pra aproveitar!
LR: Você tem alguma história marcante que envolva o Sujinho?
TH: Acontecem muitas coisas, mas acho que só quem está lá entende o que representa. Mas para destacar um caso, eu me lembro de um dia em que o professor deu uma prova, e um menino esqueceu a data e foi para o bar, estava tendo evento naquele dia. Na semana seguinte, ele disse para o professor que tinha comido algo estragado e passou mal, só que não colou, porque o professor o seguia no twitter, e na hora da prova ele escreveu algo do tipo “Sujinho bombando e todo mundo perdendo!”.
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