sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

TV Brasil nasceu fora de época, diz professor


Futuro da Televisão são os canais segmentados,

voltados para públicos específicos


fotos: Pamella Lima



por Juliana Gonçalves


Os baixos níveis de audiência comprovam que a televisão está sofrendo uma transformação. Hoje, as pessoas têm mais opções de entretenimento e de obter informações através da Internet, por exemplo, e não se prendem mais às emissoras de TV aberta. Contam também com canais que tratam apenas de assuntos voltados para determinados públicos. Em meio a essas mudanças, o governo brasileiro investe em um canal público, ao que parece, sem apostar em inovações: a jovem TV Brasil que acaba de comemorar seus dois anos de existência. O jornalista e professor Antonio Brasil discutiu esse quadro em palestra ministrada no dia 4 de dezembro na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.


Brasil, que trabalha com pesquisas sobre televisão, iniciou falando sobre o mito da TV pública. “Existe um certo maniqueísmo: a TV pública difundiria, através de sua programação, educação, cultura e cidadania, seria a Televisão do bem. Enquanto isso, a TV comercial propagaria apenas ‘baixaria’ sendo, portanto, a do mal”, disse. Ele destacou que, mesmo com este conceito, o público assiste os canais comerciais e praticamente ignora a TV Brasil, “que tem apenas resquícios de audiência”.


Em sua apresentação, o professor partiu para reflexões sobre por que o espectador teria predileção por programas da TV comercial. “Será que o público não merece uma televisão tão maravilhosa como a TV pública? Ou será que o que é exibido na comercial tem qualidade?”, indagou. Ele concluiu que “o fracasso da TV Brasil é fruto de falta planejamento e de um trabalho de pesquisa que aponte o que é de interesse do público e, também, de déficit de criatividade para investir em experimentações. Segundo o pesquisador, o debate sobre o assunto deveria ser menos político e emocional e mais técnico. “Temos que apresentar produtos e não conceitos”, afirmou.


Para ele, ter um canal sem bons níveis de audiência é um desperdício. “Trata-se de uma arma muito poderosa, mas que não consegue atingir muitas pessoas. Tem-se que gerar altos índices de audiência, até mesmo pelo que é gasto, para se manter um canal aberto. Caso contrário, é muita munição para pouco resultado”, disse.


Conforme esclareceu Antonio Brasil, a falta de programas que tenham algum indicador de um formato novo é a principal causa de o canal ser pouco assistido. “Em tv você precisa ter condições para inovar, é necessário que exista um ambiente propício para isto. Mas em um canal como a nossa TV pública é complicado, pois você precisa agradar o Governo e também não desagradar ninguém. Portanto, torna-se difícil ser criativo”, esclareceu.


A crise da audiência também afeta a TV Comercial. Isto, por conta da Internet, que criou novos formatos e opções para as pessoas. Durante a exibição dos programas, as pessoas estão fazendo outras coisas e podem assisti-los pela web. “Hoje existe uma hipersegmentação, as pessoas só veem o que realmente lhes interessa e este é o futuro da Televisão”, disse Antonio Brasil. Dentro desta lógica, existem os canais a cabo ou satélite com programações especificas para determinados públicos, voltados para nichos. Para Brasil, tudo isso contribui para a decadência da televisão e, segundo ele, o governo federal não enxergou esse fato quando inaugurou a TV Brasil, logo, apostou no sucesso de algo que está saindo de moda: “a TV como conhecemos está com os dias contados, talvez a TV Brasil tenha surgido na época errada”, apostou.

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